A gestão de Pedro Novais (PMDB) à frente do Ministério do Turismo
atropelou uma portaria definida pela própria pasta e ignorou os
posicionamentos da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre a
contratação de entidades para executar o Bem Receber Copa, programa de
qualificação de trabalhadores do setor turístico. Depois das prisões de
servidores pela Polícia Federal e das suspeitas levantadas sobre a
atuação do ministro, a CGU ampliou a devassa nos convênios assinados
pela pasta, em especial nos contratos para qualificar trabalhadores que
atuarão na Copa do Mundo em 2014, e identificou irregularidades na
condução dos convênios.
Em 3 de maio deste ano, o ministério
repassou R$ 917,5 mil para a entidade Os Independentes organizar a Festa
do Peão de Barretos (SP), que será realizada até o próximo domingo. Os
três repasses feitos contrariam uma portaria assinada pelo antecessor de
Pedro Novais, o petista Luiz Barretto, em 10 de dezembro de 2010: “Fica
vedado o repasse de recursos públicos a entidades privadas sem fins
lucrativos para a realização de eventos”, estabelece a portaria. Já as
entidades contratadas para ofertar os cursos de qualificação com foco na
Copa deveriam ser selecionadas por meio de uma concorrência pública ou
de licitação, conforme entendimento final da CGU. Mas foram as próprias
organizações que decidiram, entre elas, quem receberia os repasses do
ministério (veja Os erros apontados ao lado).
Os convênios entre o
Ministério do Turismo e Os Independentes, para o financiamento da maior
festa de peão do país, foram assinados no ano passado, antes da
portaria baixada por Luiz Barreto. O detalhe é que um dos convênios
acabou prorrogado “de ofício” pelo então secretário executivo de Pedro
Novais, Frederico Silva da Costa, preso pela Polícia Federal na Operação
Voucher. A ampliação do contrato foi assinada em 7 de julho e o prazo
final da vigência passou a ser 10 de agosto. Antes disso, o ministério
concretizou três repasses — nos valores de R$ 420 mil, R$ 370 mil e R$
127,5 mil — para Os Independentes realizarem a Festa de Peão de
Barretos. A entidade é uma das citadas no relatório final da CPI das
ONGs, concluído pelo Senado em outubro do ano passado. Ela recebe
dinheiro público pelo menos desde 1999. Em razão de diversas fraudes nos
repasses para ONGs realizarem eventos públicos, o então ministro Luiz
Barretto baixou a portaria vetando novos pagamentos pela pasta.
Segundo
a CGU, a execução do Bem Receber Copa também começou a ser feita a
partir de uma ilegalidade. O Correio mostrou ontem que duas entidades
suspeitas de irregularidades receberam repasses de quase R$ 5 milhões
neste ano para qualificar trabalhadores de diferentes setores
turísticos, com foco na Copa do Mundo. O Ministério do Turismo não fez
qualquer tipo de concorrência pública para definir as organizações. As
escolhas ocorrem no âmbito do Conselho Nacional de Turismo, presidido
pelo ministro Pedro Novais. Foi assim que o Instituto Brasileiro de
Hospedagem (IBH) conquistou um contrato de R$ 16,8 milhões para
qualificar virtualmente milhares de trabalhadores. O IBH é investigado
pela CGU e pelo Ministério Público Federal no DF.
Copa de 2014
O
ministério sustenta que a portaria interministerial nº 127 não obriga a
realização de chamadas públicas para a celebração de convênios e que as
entidades do setor são as mais apropriadas para oferecer os cursos aos
trabalhadores, uma vez que não seriam criadas vagas de emprego. Para o
ministro-chefe da CGU, Jorge Hage, a interpretação da pasta está
equivocada. “A argumentação do Ministério do Turismo não derruba a
exigência legal”, disse o ministro em entrevista ao Correio. “O Bem
Receber Copa ainda não está sacramentado, ainda está em discussão no
seio do governo. Praticamente todas as entidades contratadas pelo
programa estão sendo investigadas pela CGU”, ressalta Hage. Segundo ele,
além da portaria interministerial, um decreto da Presidência da
República e uma instrução normativa da Advocacia-Geral da União (AGU)
estabelecem regras para concorrências públicas e contratações das
entidades sem fins lucrativos.
Os convênios para cursos de
qualificação, como os assinados para a execução do Bem Receber Copa, são
considerados “áreas de risco” pelo ministro da CGU. “Investigar
capacitação de pessoas é muito difícil, pela extensão da rede de
distribuição de recursos. O ministério gestor não consegue fiscalizar
se, de fato, duas, três, 10 mil pessoas estão sendo capacitadas.” Hage
também cita o financiamento público de eventos turísticos como foco de
fraudes e corrupção. “Há problemas sérios com festas de peão. Por isso, o
então ministro Luiz Barretto baixou a portaria suspendendo repasses
para eventos.”
Por meio da assessoria de imprensa, o Ministério
do Turismo afirmou que não repassou “nenhum recurso público” para a
entidade Os Independentes realizar a Festa do Peão de Barretos. Até o
fechamento desta edição, a assessoria de imprensa da organização não
respondeu aos questionamentos da reportagem do Correio.
Adin contra o regime diferenciado
O
PPS, o PSDB e o DEM entraram ontem com uma ação direta de
inconstitucionalidade (Adin) no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a
lei que instituiu o Regime Diferenciado de Contratações Públicas
(12.462/2011), que flexibiliza as exigências para contratações de obras
públicas e modifica a lei das licitações para aplicação nos contratos a
serem realizados na Copa de 2014 e nas Olimpíadas de 2016. Os partidos
afirmam que o RDC é fruto de uma emenda de relatoria cujo teor nada
tinha a ver com a MP 527, na qual foi inserido.
Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2011/08/26/interna_politica,267145/cgu-identifica-problemas-nos-contratos-firmados-pelo-ministerio-do-turismo.shtml
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sexta-feira, 26 de agosto de 2011
CGU identifica problemas nos contratos firmados pelo Ministério do Turismo
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