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sexta-feira, 23 de julho de 2010

Polícia Federal investiga assessores de Roriz

Nem mesmo inocentado pela ministra Ellen Gracie, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no processo em que era acusado de fazer propaganda eleitoral em veículos do transporte alternativo, o governador do Distrito Federal, Joaquim Domingos Roriz (PMDB), não conseguiu comemorar. Joaquim Roriz está mergulhado num grande inferno astral. Tudo por conta da prisão de nove pessoas envolvidas com a grilagem de terras públicas em Brasília. Dentre elas o deputado distrital José Edmar (PMDB), goiano e antigo amigo do governador. Maria do Socorro Lucena Araújo, administradora da cidade satélite de Santa Maria, e vários funcionários do governo do Distrito Federal também foram indiciados pela Polícia Federal. 

A preocupação de Joaquim Roriz com as investigações da Polícia Federal tem sentido. Um dos maiores amigos do governador, o deputado distrital Pedro Passos, está sendo investigado junto com os irmãos Alaor e Márcio Passos. A administradora regional de Santa Maria, Maria do Socorro Lucena Araújo, e vários outros servidores ligados a Maria do Socorro foram indiciados e podem ter a prisão decretada pela Justiça. O Ministério Público chegou a pedir a prisão de Maria do Socorro, mas o pedido foi negado pelo desembargador Carlos Fernando Matias, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Um outro pedido deve ser feito nos próximos dias.

Os irmãos Passos, segundo o delegado Luiz Fernando Corrêa, chefe da Missão Especial da Polícia Federal que investiga a grilagem de terras em Brasília, seriam os maiores grileiros. O delegado garante que pelo menos cinco quadrilhas de grileiros estão agindo no Distrito Federal. Para tentar evitar que a notícia das prisões atingisse o governo, Joaquim Roriz demitiu a administradora regional de Santa Maria. Ela estaria atuando junto com o deputado distrital José Edmar no esquema de grilagem.

A Prisão — O deputado José Edmar foi preso por policiais federais na quinta-feira, 10, na sua fazendo do município de Formosa. No total nove pessoas foram presas pela Operação Grilo em cinco Estados. José Edmar, segundo a Polícia Federal, seria o representante da organização criminosa na Câmara Legislativa do Distrito Federal.

Os acusados foram indiciados pela Polícia Federal por grilagem de terras públicas, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, formação de quadrilha e ameaças a testemunhas. A Polícia Federal afirma que a quadrilha liderada pelo deputado José Edmar, que é presidente da Comissão de Assuntos Fundiários da Câmara Legislativa, é um dos três principais grupos criminosos investigados por essa Missão Especial de Combate à Grilagem de Terras no Distrito Federal. “Estamos tratando de uma quadrilha extremamente perigosa, armada e organizada”, salienta o delegado da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa.

Mais de mil pessoas envolvidas com a grilagem de terras estão sendo investigadas pela Polícia Federal desde o ano passado. Sem querer oferecer mais detalhes, o delegado da Polícia Federal diz que “outras autoridades do Legislativo, Executivo e Judiciário locais” estariam envolvidas com o esquema. José Edmar foi preso em flagrante, mesmo tendo foro privilegiado, acusado de praticar crimes continuados, inclusive lavagem de dinheiro. A prisão do deputado e das outras oito pessoas foram decretadas pelo desembargador Carlos Fernando Matias, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

Jogada — Nos bastidores, o governador Joaquim Roriz corre contra o tempo para tentar ajudar o amigo José Edmar a se livrar da cadeia. Temendo não conseguir relaxar a prisão do deputado na Justiça, o governador estaria articulando para que os deputados libertassem José Edmar, uma prerrogativa permitida pela lei. Mesmo estando de férias, os deputados distritais devem se reunir na segunda-feira, 14, em sessão extraordinária para analisar a prisão do colega.

Como tem maioria na Câmara Legislativa, Joaquim Roriz pode conseguir o relaxamento da prisão do deputado José Edmar, que está, desde quinta-feira, na Carcerária da Polícia Federal, no Setor Policial Sul, em Brasília. Para o procurador da República Carlos Eduardo de Oliveira, responsável pelas denúncias contra o deputado, se relaxarem a prisão de José Edmar, os parlamentares estarão cometendo um grande erro. “Seria um ônus muito grande para a Câmara Legislativa deliberar pela soltura do deputado, pois a prisão foi feita de forma totalmente legal”, disse o procurador ao Correio Braziliense.

O deputado José Edmar é goiano e tem 51 anos de idade. Já esteve na iminência de perder o mandato por causa de denúncia de crime eleitoral, mas ainda responde a processo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). José Edmar está cercado por assessores que controlam associações de moradores e de sem tetos. O deputado também é acusado de apoiar invasões no Distrito Federal.

Ex-advogado de governador denuncia ameaça de morte

Foi uma ligação rápida, de poucos segundos, mas suficiente para que um homem fizesse a ameaça de morte contra o advogado Pedro Maurino Calmon Mendes, de 64 anos. A ligação foi feita para o escritório do advogado, que fica no Lago Sul, em Brasília, na manhã de terça-feira, 8, e atendida pela secretária Inah Selma Rodrigues.

— Dr. Pedro atenda ao telefone que tem uma pessoa lhe ameaçando de morte — disse a secretária ao transferir a ligação para o advogado Pedro Calmon.

— Diga para o Dr. Pedro Calmon que hoje é dia 8, dou a ele até o dia 18 deste mês para ele procurar o jornal [Jornal Opção] e desmentir tudo que ele falou contra o governador Roriz, desmentir tudo que falou porque senão, no dia 19, ele será presunto. Teria dito o homem à secretária durante a ligação feita de um telefone público.

Ao atender a ligação, o advogado Pedro Calmon diz que ouviu a mesma ameaça. O diálogo entre Calmon e o homem que fez a ameaça foi presenciado pelo advogado Ennio Bastos. “Essa voz era muito parecida com a do deputado Pedro Passos. A pessoa deixou bem claro que conhecia todos os meus hábitos e horários e até os locais onde freqüento”, denuncia Pedro Calmon. Pedro Passos foi procurado pelo Jornal Opção no gabinete dele na Câmara Legislativa, mas, apesar da promessa dos assessores, não foi possível ouvir a versão do parlamentar.

Outras Ameaças — O advogado Pedro Calmon, que já defendeu o governador Joaquim Roriz, diz que as ameaças de morte estão se tornando cada vez mais comuns. Pedro Calmon lembra que o ex-presidente da Terracap Eri Varella também já foi ameaçado pelos irmãos Passos, quando aconteceu a destruição de cercas nas quadras 27 e 29 do Lago Sul, em Brasília. Essas áreas, de acordo com as denúncias publicadas na época, estavam sendo griladas pelo deputado distrital Pedro Passos e por seu irmão Márcio Passos.

Pedro Calmon ressalva que não tem inimigos, “a não ser os que foram envolvidos no depoimento na Procuradoria Geral da República”. O advogado se refere ao depoimento prestado no mês de maio, para esclarecer a história de um bilhete destinado ao governador Roriz, que o envolve com a grilagem de terras públicas em Brasília. No depoimento Pedro Calmon mostrou uma suposta ligação entre o governador Roriz com a família Passos. “Roriz tem uma sociedade secreta com grileiros”, disse Calmon, na Procuradoria Geral da República.

O bilhete que trouxe esse assunto à tona foi assinado pelo ex-senador Pedro Teixeira, já morto, e era destinado ao advogado Pedro Calmon. No bilhete o ex-senador conta como deveria ser feita a divisão de uma área invadida. “Fui chamado na Procuradoria da República e não poderia negar um fato verdadeiro como se fosse mentiroso. O bilhete foi escrito de próprio punho pelo Pedro Teixeira, em 1995, e endereçado a mim. O ex-senador pediu que eu entregasse a documentação dos lotes ao governador Roriz e eu entreguei”, conta Pedro Calmon. O advogado frisa que a grilagem de terras em Brasília é um “esquema muito poderoso”.

Nesse bilhete o ex-senador Pedro Teixeira pede para que o advogado Pedro Calmon fizesse a entrega da “cota” dos lotes a que Roriz teria direito. Eram mais de 200 lotes, dos quais metade foi usada para presentear jornalistas amigos. Para complicar ainda mais, Pedro Calmon passou a ter como cliente o advogado e fazendeiro Carlos Henrique de Almeida, que acusa o governador Joaquim Roriz de ter lhe repassado vários cheques tomados em assalto como garantia de empréstimos.

De acordo com o fazendeiro, três pessoas estão marcadas para morrer, porque fizeram denúncias contra Joaquim Roriz. Dentre essas pessoas estaria o próprio fazendeiro. Carlos Henrique de Almeida registrou a denúncia no Ministério Público do Distrito Federal. As ameaças, também via telefone, teriam começado depois que Carlos Henrique procurou a Polícia Federal para denunciar a história dos cheques roubados.

Cheques Roubados — Carlos Henrique de Almeida, que conhece o deputado distrital Pedro Passos há mais de dez anos, diz que tinha uma boa convivência com Joaquim Roriz, já tendo participado de leilões de cavalos organizados pelo governador. O fazendeiro Carlos Henrique conta que fez os empréstimos no valor de 355 mil reais para o governador durante a campanha de 1988 e até hoje não foram quitados.

Para garantir o pagamento do empréstimo, Joaquim Roriz, que estava acompanhado do deputado distrital Pedro Passos e do ex-presidente da Terracap Eri Varella, entregou alguns cheques ao fazendeiro. Um dos cheques no valor de 35 mil reais está em nome de Neuracy Cunha Ribeiro, do Banco de Brasília (BRB). Outro cheque no valor de 15 mil reais, do Banespa, está em nome de Eleutério R. Neto. Os cheques foram tomados em assalto e avalizados no verso por Pedro Passos. (Oloares Ferreira)

Pedro Calmon vai pedir proteção do Ministério da Justiça e da OAB

Em entrevista ao Jornal Opção, o advogado Pedro Maurino Calmon Mendes diz que quer garantia, pois teme ser assassinado. Pedro Calmon já entrou com uma representação criminal na 10ª Delegacia Distrital, que fica no Lago Sul, em Brasília e pretende registrar a denúncia na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e no Ministério da Justiça. “Não confio no secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. Não confio em ninguém do governo [administração Roriz]. Mesmo assim, vou encaminhar um ofício para o secretário relatando as ameaças”, afirma o advogado Pedro Calmon.

O advogado Pedro Passos, que defende o fazendeiro Carlos Henrique de Almeida num processo contra Joaquim Roriz, diz que o juiz Júlio Roberto dos Reis, da 17ª Vara Civil do Distrito Federal, já pediu para que ele especificasse as provas antes de colocar o processo na fase de julgamento. “Vou pedir ao juiz que convoque o governador Joaquim Roriz, o deputado distrital Pedro Passos e o ex-presidente da Terracap Eri Varella para prestar depoimento. Vou pedir, ainda, que a Justiça faça um exame grafotécnico nas assinaturas dos cheques e também do endosso no verso dos documentos. Queremos mostrar quem realmente preencheu e avalizou os cheques”, diz Pedro Calmon, que, por causa das ameaças, está protegido por seguranças. (Oloares Ferreira)


COMENTÁRIO

Os sinais e a leitura errada

Habilidoso e experimentado, o governador Joaquim Roriz sabe que a leitura errada dos sinais do jogo político pode resultar em desastre.

Há pouco mais de uma semana, Roriz constatou o que já sabia, por experiência: o PMDB, em tese, o defendeu junto ao governo de Lula, e até “ameaçou” romper com o presidente do PT para defendê-lo, mas, na verdade, o partido de José Sarney está apenas tentando ampliar seu espaço.

O que Roriz vale para o PMDB de José Sarney e de Michel Temer? Roriz pode ser uma excelente moeda de troca do partido, que, para entregá-lo, poderá ganhar, digamos, mais um ministério.

Então, qual a leitura real do episódio — leitura que também é a de Roriz, mas o governador não pode divulgá-la, antes, precisa apresentar a versão de que alguém saiu em sua defesa? O PMDB está defendendo a si próprio, seus interesses no governo de Lula.

É um truísmo dizer que, em política, não se rompe, impunemente, com um governo que só está começando. Com anos de escola e de sabedoria, o PMDB certamente não tem como romper com um governo que está no poder há apenas seis meses e alguns dias. Mas em política joga-se sempre, todos os dias, e Roriz é uma peça, extremamente móvel e descartável, mas, ainda assim, ótima para se fazer pressões. As prisões da semana passada, numa ação rigorosa da Polícia Federal, provam que a “pressão” do PMDB não intimidou o governo Lula. Pelo contrário. Mexeu numa caixa de marimbondos.

Roriz é tão inteligente quanto José Sarney, Temer e, claro, o presidente Lula. Roriz sabe que acabou, mesmo que não seja cassado, o que ele deve ser, se não renunciar. Tanto que, em Brasília, o espólio de Roriz já começa a ser disputado, sem qualquer sutileza, pelo senador Paulo Octávio e pelo deputado federal José Roberto Arruda. O próprio Roriz guarda seu reserva para um provável embate sucessório: o amigo Tadeu Fillipeli. (Euler Belém)

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Você concorda com a absolvição da Deputada Federal Jaqueline Roriz - PMN/DF, (que foi flagrada recebendo propina em 2006)

Você concorda com o Projeto de Lei 531/2011, de autoria do deputado Cristiano Araújo - PTB-DF, que propõe horários determinados para manifestações na Esplanada dos Ministérios?

Como você conheceu o @movFichaLimpa?

Qual critério tem mais peso ao escolher o candidato de sua preferência?

Mais uma polêmica envolvendo ministros. Estamos passando por uma onda de denuncismos, ou limpeza?

Você concorda com a reforma ministerial, e diminuição da quantidade de ministérios? Atualmente são 39 no total. EUA, Reino Unido, Rússia e México têm em média 20 ministérios.