Como uma corretora de imóveis reuniu 25 mil pessoas contra a corrupção em Brasília e ajudou a criar um novo movimento político
O ativismo mudou a vida de Daniella. Depois do protesto, ela não teve tempo para vender mais nenhum imóvel. Vive com o filho de 10 anos na casa da mãe, que agora a ajuda financeiramente. Sua agenda está comprometida com reuniões, confecção de cartazes, panfletagem e militância virtual. Depois da passeata, ela chegou a pensar em entrar na política. Descartou a ideia, mas diz que ficou mais bem informada depois da experiência. “Nunca fui muito politizada, mas agora estou lendo muito. Procuro saber sobre tal PEC (proposta de emenda à Constituição). Tenho medo de falar bobagem.”
Essas manifestações são um fenômeno novo no país. Elas são apartidárias – e querem continuar assim. Seus líderes são indivíduos que não integram instituições tradicionais, como partidos, sindicatos e organizações estudantis. Querem distância dos políticos, tanto da situação como da oposição. “Fazem questão de não ter nossa participação”, disse o senador Pedro Simon (PMDB-RS), depois de participar de uma reunião na Ordem dos Advogados do Brasil na qual estavam Daniella e sua irmã. Segundo Daniella, após o 7 de setembro, alguns partidos ofereceram ajuda. Ela recusou porque muitas pessoas entraram no protesto justamente por ser apartidário – inclusive ela.
Os novos manifestantes tentam compensar a pouca disponibilidade de tempo e a pouca experiência com a internet. Seguem o exemplo dos jovens do Oriente Médio que derrubaram ditaduras na Primavera Árabe. Para alguns analistas, esse movimento é um novo fenômeno, uma espécie de revolta da classe média em ascensão nos países emergentes. O desenvolvimento econômico gera novas demandas políticas para essas populações. A China e a Índia também enfrentaram recentemente manifestações contra corrupção e má gestão. “Se não têm emprego, as pessoas ficam basicamente preocupadas com a subsistência”, diz o cientista político José Álvaro Moisés, da Universidade de São Paulo. “Com melhores empregos e melhor instrução, elas passam a reivindicar uma democracia melhor.”
O maior risco para a continuidade dos protestos é de ordem prática. No ano que vem, Daniella pretende voltar a vender imóveis e a fazer apenas uma marcha anual a cada 7 de setembro. “A gente tem motivos para fazer uma marcha todo mês, mas todo mundo trabalha”, diz. Superar a falta de uma militância profissional, definir uma agenda mais clara e melhorar a organização são necessidades reais para que esse novo movimento da política brasileira consiga se manter e obter mudanças concretas. Sem efeitos práticos, eles correm o risco de virar só um modismo, como muitos que circulam na internet e passam. Mesmo que os protestos do dia 12 não repitam o sucesso de setembro, o poder de mobilização da classe média não deve diminuir. “Movimentos como esse vieram para ficar”, diz Moisés.
Fonte: http://revistaepoca.globo.com/vida/noticia/2011/10/faxineira-de-brasilia.html
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