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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Um deputado na mira


Acusado de desviar dinheiro público, Wigberto Tartuce vende empresas e perde prestígio

O campo de futebol da casa do deputado federal Wigberto Tartuce (PPB-DF) anda vazio. Até abril passado, políticos de todos os partidos, empresários e artistas reuniam-se uma noite por semana no gramado sintético, sob a luz dos holofotes. O parlamentar cancelou as partidas quando foi afastado do cargo de secretário de Trabalho do Distrito Federal. Em um ano de gestão, Tartuce colocou a Secretaria de Trabalho, Emprego e Renda na lista dos inadimplentes com a União. Uma sindicância do Ministério do Trabalho acusou o desvio de R$ 11,6 milhões destinados à qualificação de trabalhadores, repassados pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) em 1999. O deputado tem prazo até 6 de dezembro para se defender no Tribunal de Contas da União (TCU). Se for condenado, terá de devolver o dinheiro. O governo de Brasília já foi punido. A secretaria está proibida de receber recursos federais, solicitar empréstimos a bancos públicos e firmar novos convênios com a União.
Tartuce teve uma infância pobre em Rio Verde, no interior de Goiás. Na adolescência, foi contínuo de banco. Logo arranjou emprego na construtora Encol. Em 1988, antes da falência da empresa, que deixou mais de 40 mil famílias sem apartamento, montou sua própria construtora. Especializou-se na edificação de imóveis de luxo. Um de seus prédios divide-se em apartamentos de três e quatro andares. Acumulou patrimônio invejável. A declaração de bens entregue à Justiça Eleitoral em 1998 relaciona 22 imóveis espalhados por Brasília, Minas Gerais e Espírito Santo. Transformou-se em modelo de novo-rico no Planalto. Construiu uma das maiores casas da cidade, colecionava carros importados e patrocinava shows de artistas sertanejos em suas festas particulares.

Nos últimos quatro anos, o deputado teve muitos problemas. Fechou parte de suas empresas, como a distribuidora de bebidas Cartola, inativa desde 1997. Enfrenta boatos constantes de que sua construtora estaria ameaçada de falência, seguindo o mesmo caminho da Encol. Aos problemas financeiros e políticos somou-se uma tragédia pessoal. Em maio, o filho Gustavo, de 18 anos, morreu em um acidente. Dirigia a BMW amarela que ganhara do pai um mês antes.

Dono de duas emissoras de rádio FM em Brasília, Tartuce angariou popularidade ao assumir o microfone de um programa sertanejo. Com o apelido de Wigão, transformou-se em personagem de Brasília. Fez da amizade com as duplas sertanejas promovidas na rádio um passaporte para aproximar-se de poderosos. Durante o processo de impeachment do presidente Fernando Collor, levou uma caravana de artistas para cantar na Casa da Dinda. Garantiu a vaga na Câmara dos Deputados em 1994 e 1998 graças à promoção de shows de pagode e sertanejos durante as campanhas. Na última eleição, teve o voto de quase 10% dos eleitores do Distrito Federal. Apesar do estilo folclórico, ganhou espaço político no Congresso. Foi presidente da Comissão de Trabalho da Câmara, pela qual passam as discussões do salário mínimo. Aproximou-se do principal dirigente do PPB, Paulo Maluf, a quem transportava em sua Mercedes quando estava em Brasília. Obteve em troca a vice-liderança do partido na Câmara dos Deputados.

Eleito, colecionou escândalos. Usou cargos do gabinete no Congresso para contratar jardineiros, cozinheiros e outros empregados de sua mansão. A Câmara considerou regular a atitude do parlamentar. Em 1995, a cantora Gilmara Duarte, então com 18 anos, acusou o deputado de tê-la engravidado. O filho de Tartuce, Wigberto Júnior, assumiu a defesa do pai e declarou ter tido um caso com Gilmara. A família não fala no assunto.

A investigação do FAT está sob a responsabilidade do Ministério Público, do TCU e da Polícia Federal. “Não houve comprovação de que vários cursos foram realizados”, diz o procurador Guilherme Schelb, um dos responsáveis pela apuração do caso. “Além disso, documentos comprovam que muitos trabalhadores estavam inscritos em cursos diferentes, ministrados no mesmo horário.” De acordo com o relatório do ministério, pelo menos 13 instituições contratadas para o treinamento não têm funcionários capacitados nem salas de aula. Há indícios de que algumas prestadoras de serviço receberam dinheiro antes da conclusão dos cursos, contrariando dispositivos do contrato. Outras não apresentaram comprovação de recolhimento do INSS. “A responsabilidade do desvio não foi apurada”, argumenta o advogado de Tartuce, Flávio Rodovalho.

Devido à suspeita de fraude, o governo do DF deixará de receber R$ 24,5 milhões do FAT para o treinamento de 152 trabalhadores até o fim deste ano. O governo minimiza o prejuízo. “A qualificação dos trabalhadores será feita com os R$ 19 milhões repassados para a secretaria no primeiro semestre deste ano”, diz o atual secretário de Trabalho, Edimar Braz. “Não dependemos de mais recursos até o fim do ano.” A secretaria afastou oito funcionários por envolvimento nas irregularidades.

Tartuce voltou para o Congresso há sete meses, mas continua marcado pelas irregularidades ocorridas na Secretaria de Trabalho. Passou a ser tratado pelos colegas com distanciamento semelhante ao dispensado ao ex-senador Luiz Estevão (PMDB-DF) nos meses que antecederam a cassação. Como Tartuce, Estevão fez riqueza em Brasília e é suspeito de desviar dinheiro público. O futuro de Tartuce depende do resultado das investigações e da compreensão dos colegas da Câmara, entre eles os antigos companheiros de futebol. 

Carolina Brígido, de Brasilia

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Qual critério tem mais peso ao escolher o candidato de sua preferência?

Mais uma polêmica envolvendo ministros. Estamos passando por uma onda de denuncismos, ou limpeza?

Você concorda com a reforma ministerial, e diminuição da quantidade de ministérios? Atualmente são 39 no total. EUA, Reino Unido, Rússia e México têm em média 20 ministérios.